Obra infantojuvenil mistura fantasia, cultura nordestina e crítica social em jornada poética de resgate à ancestralidade
Miquéias e o Cordel do Fim do Mundo, do autor Gabriel Borges, é um livro de fantasia voltado ao público infantojuvenil que mergulha em elementos da cultura nordestina e propõe uma versão encantada do Brasil, batizada de “Brasarol”. Com narrativa envolvente, ilustrações e mapas que auxiliam na imersão, a obra acompanha a trajetória de Miquéias, um jovem sertanejo com dom para a poesia e uma conexão mágica com a natureza, que parte em uma missão para convencer a Morte da nobreza da humanidade, enfrentando seres encantados e desafios sobrenaturais.
Gabriel Borges, que também é músico, publicitário e poeta, aposta em uma linguagem rica em brasilidade, com vocabulário regional e imagens poéticas vívidas. Ainda que a prosa em formato cordelizado, com parágrafos extensos, possa soar incomum aos leitores acostumados à métrica tradicional do cordel nordestino, o autor consegue manter o encanto da narrativa até o fim.
A estrutura da história segue a clássica jornada do herói, mas ambientada em um cenário de forte influência folclórica. Personagens como Cumade Fulozinha, o burrinho encantado Puro Osso, a figura sombria da Morte e o temido Papa-Figo compõem um universo repleto de magia e referências à cultura popular brasileira.
A obra também faz uso de recursos modernos, como um aplicativo de realidade aumentada que torna a experiência de leitura mais interativa, aproximando o livro do público jovem acostumado a mídias digitais. Ao mesmo tempo, carrega um tom sutil de crítica social ao abordar temas como o coronelismo, a seca, a criminalização da arte e a destruição ambiental — compondo um pano de fundo que espelha desafios reais do país.
Mais do que uma fábula sobre encantamento, o livro apresenta um enredo de resistência cultural, celebrando a oralidade, a arte popular e o imaginário nacional. Com esse lançamento, Gabriel Borges inicia uma trilogia de fantasia brasileira que se destaca não apenas pela originalidade do mundo criado, mas também pela forma singular de contá-lo — com lirismo, crítica e forte identidade regional.