Episódio deixou mortos, milhares em risco de contaminação e mudou protocolos de segurança radiológica
Em 13 de setembro de 1987, Goiânia viveu o maior acidente radiológico já registrado fora de usinas nucleares. O caso teve início quando dois catadores encontraram e desmontaram um aparelho de radioterapia abandonado, liberando Césio-137 — substância altamente radioativa — que rapidamente se espalhou pela cidade.
O brilho azul do pó chamou atenção de moradores. Devair Ferreira, dono de um ferro-velho, chegou a mostrar a cápsula para vizinhos e familiares. O irmão dele, Ivo Ferreira, levou parte do material para casa, o que resultou na contaminação de sua filha, Leide das Neves, de apenas seis anos, que acabou ingerindo partículas radioativas durante uma refeição. A menina se tornou símbolo da tragédia.
O risco foi identificado somente em 29 de setembro, quando autoridades federais intervieram. Mais de 112 mil pessoas passaram por triagem no Estádio Olímpico, em um processo inédito de descontaminação. Toneladas de solo, móveis, utensílios e até residências precisaram ser demolidos.
O desastre deixou quatro mortos confirmados — Maria Gabriela Ferreira, Leide das Neves, Israel Baptista dos Santos e Admilson Alves de Souza. Outras 249 pessoas apresentaram contaminação significativa, muitas delas convivendo até hoje com sequelas físicas e psicológicas.
Na última quinta-feira (11), a Assembleia Legislativa de Goiás aprovou o Projeto de Lei nº 21358/25, que altera a composição da Junta Médica Oficial da Secretaria Estadual de Saúde. A mudança prevê a inclusão de especialistas em psiquiatria, flexibiliza as regras de quórum e possibilita substituições temporárias, com o objetivo de garantir acompanhamento contínuo e humanizado às vítimas.
O acidente com o Césio-137 revelou falhas graves no manejo de materiais radioativos e trouxe ao mundo a necessidade de protocolos mais rigorosos. Três décadas e oito anos depois, Goiânia ainda convive com cicatrizes da tragédia, mas também com um legado de conscientização que influenciou normas de segurança em diversos países.