Operação Césio 171 mira grupo suspeito de fraude de R$ 79 milhões com falsas vítimas do acidente radiológico

Polícia Civil investiga advogados, médico e engenheiro que teriam falsificado documentos para obter isenção indevida de imposto de renda

A Polícia Civil de Goiás deflagrou, nesta quinta-feira (30), a Operação Césio 171, para cumprir sete mandados de busca e apreensão e cinco de prisão temporária na Região Metropolitana de Goiânia. Entre os alvos estão advogados, um médico e um engenheiro investigados por estelionato contra ente público, associação criminosa e falsidade ideológica. Segundo as investigações, o grupo teria causado prejuízo potencial de até R$ 79 milhões, com dano efetivo já apurado em cerca de R$ 1,7 milhão.

De acordo com a corporação, os suspeitos falsificavam documentos, incluindo laudos e relatórios médicos, para ingressar com ações judiciais em nome de militares estaduais, buscando isenção indevida do Imposto de Renda sob a justificativa de contaminação por Césio-137 — substância envolvida no maior acidente radiológico do mundo fora de uma usina nuclear, ocorrido em Goiânia na década de 1980.

A operação é conduzida pela Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), por meio do Grupo de Repressão a Roubos, com apoio da Gerência de Ações Estratégicas da Secretaria Estadual de Saúde. Esta é a segunda fase da investigação, iniciada em 2024.

As apurações começaram após a Justiça de Goiás receber cerca de 80 ações em dois anos, todas movidas por um mesmo grupo de advogados e em nome de policiais militares e bombeiros aposentados de Goiás e Tocantins. Os processos alegavam contaminação por material radioativo e outras doenças graves, como Aids e cardiopatia, para garantir isenção tributária.

Durante a primeira fase, a Polícia Civil identificou fraudes em laudos médicos e prejuízo estimado superior a R$ 20 milhões aos cofres públicos. Entre os investigados estavam um tenente-coronel do Corpo de Bombeiros e um promotor de Justiça, que teriam sido incluídos nos processos sem qualquer contato com material radioativo. Duas advogadas foram presas por articular o esquema, e um policial reformado foi detido por captar clientes.

As investigações revelaram ainda que, em pelo menos 18 processos, uma clínica de Goiás foi usada para falsificar exames — muitos deles sequer saíram do escritório da advogada responsável. Depoimentos indicam que algumas pessoas envolvidas desconheciam a fraude ou foram induzidas a participar. A Justiça agora busca a devolução dos valores recebidos indevidamente, enquanto a Polícia Civil sustenta que o esquema foi organizado e consciente.

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