Financiamentos buscam ampliar produção e estudos em Minaçu e Nova Roma, em meio à estratégia norte-americana de reduzir dependência da China
Empresas que exploram terras raras em Goiás passaram a contar com financiamento do governo dos Estados Unidos para expandir suas operações no estado. As mineradoras Serra Verde, instalada em Minaçu, e Aclara, com projeto em Nova Roma, fecharam acordos com a Development Finance Corporation (DFC), banco estatal norte-americano voltado ao apoio de projetos estratégicos no exterior.
Segundo informações divulgadas nesta segunda-feira (15), a Serra Verde garantiu um empréstimo de US$ 465 milhões, cerca de R$ 2,5 bilhões, destinado à ampliação de sua capacidade produtiva. Já a Aclara obteve US$ 5 milhões (aproximadamente R$ 27 milhões) para a conclusão de estudos de viabilidade do seu projeto em Goiás, com a possibilidade de conversão da dívida em participação acionária.
Do ponto de vista dos Estados Unidos, os acordos fazem parte de uma estratégia para diminuir a dependência em relação à China, que hoje responde por cerca de 60% da extração global de terras raras e por aproximadamente 90% da capacidade mundial de refino. O Brasil aparece como o terceiro país com maiores reservas conhecidas, atrás apenas da China e do Vietnã.
As terras raras correspondem a um grupo de 17 elementos químicos considerados estratégicos, utilizados principalmente na transição energética, na indústria de alta tecnologia e em aplicações ligadas à defesa. A extração e o refino desses minerais são processos complexos e altamente concentrados em poucos países.
A Serra Verde é, atualmente, a única mineradora de terras raras em operação no Brasil e uma das poucas fora do território chinês. Embora o contrato com o DFC não tenha sido tornado público, a empresa informou que não comentaria o conteúdo do acordo. Em entrevista à agência Reuters no fim de 2024, o presidente da companhia, Thras Moraitis, afirmou que contratos anteriores foram reestruturados para permitir que parte da produção fosse direcionada a clientes ocidentais.
A meta da empresa é elevar a produção para 5 mil toneladas de óxido de terras raras até 2027 e alcançar 10 mil toneladas anuais até 2030, objetivo diretamente ligado ao financiamento obtido junto ao banco norte-americano.
Especialistas apontam que o apoio do DFC costuma vir acompanhado de compromissos estratégicos. De acordo com Samantha Carl-Yoder, ex-vice-cônsul dos EUA em São Paulo e atual diretora de políticas da empresa de lobby Brownstein, projetos de minerais críticos financiados pela instituição geralmente preveem que parte da produção seja destinada ao mercado norte-americano, condição que integra as negociações finais.
No caso da Aclara, o empréstimo está voltado à finalização do estudo de viabilidade da mina em Goiás. A empresa anunciou em outubro a construção de uma refinaria nos Estados Unidos para processar o concentrado produzido no Brasil. O investimento previsto para a unidade norte-americana é de US$ 277 milhões (R$ 1,5 bilhão), valor inferior ao montante estimado para o projeto em solo goiano, calculado em US$ 680 milhões (R$ 3,7 bilhões).
Em nota, a Aclara afirmou que o contrato com o DFC não obriga novos aportes nem impõe a destinação da produção ao mercado dos EUA. A empresa ressaltou que decisões sobre processamento fora do Brasil seguem critérios comerciais, técnicos, regulatórios e tributários, e que o país permanece como peça central do projeto.
O tema também tem sido acompanhado pelo governo brasileiro, que defende que etapas de processamento e agregação de valor dos minerais críticos ocorram no território nacional. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já declarou que a geração de valor no Brasil é uma condição estratégica para o desenvolvimento do setor.






