Inquérito da Polícia Civil apura suposta incitação à violência em música lançada nos anos 1980
A banda paulista de punk rock Garotos Podres está sendo investigada pela Polícia Civil após denúncia que aponta possível incitação à violência e ataque a crenças cristãs em letras e falas feitas durante um show. O caso, segundo os músicos, teve origem em uma apresentação realizada no primeiro semestre deste ano, mas só ganhou repercussão recentemente nas redes sociais.
O principal foco da investigação é a música “Papai Noel, Velho Batuta”, lançada em 1985 no álbum “Mais Podres do que Nunca”. Na letra, o personagem do Papai Noel é retratado de forma crítica e provocativa, com trechos que falam em sequestro e morte como metáfora de denúncia social. Para os autores da denúncia, a canção representaria uma “forma subliminar da cultura da violência” e conteria ataques à fé cristã.
De acordo com os integrantes da banda, quatro músicos foram interrogados de forma remota, assim como o empresário responsável pela contratação do show. Outras músicas do repertório e declarações feitas no palco também estariam incluídas no inquérito, conforme trechos do documento aos quais a reportagem teve acesso. A íntegra do processo, no entanto, não foi divulgada.
Os músicos afirmam que, por orientação jurídica, detalhes como o autor da denúncia, o local da apresentação e a delegacia responsável pelo caso estão sendo mantidos em sigilo. O inquérito já teria sido concluído, e agora a banda aguarda a decisão do Ministério Público, que pode optar pelo arquivamento ou pela apresentação de denúncia formal.
Nas redes sociais, o grupo reagiu com ironia e passou a compartilhar mensagens de apoio de fãs, artistas e entidades ligadas à cultura e a movimentos sociais. Entre as manifestações, há notas de solidariedade de diretórios partidários e de sindicatos da área da educação.
Recentemente, a música investigada ganhou um clipe em animação, no qual a banda faz referências diretas ao episódio e critica o que chama de intimidação jurídica e tentativa de censura. Em apresentações ao vivo, o vocalista Mao também comentou o caso, classificando o processo como inquisitorial e afirmando que, décadas após o fim da ditadura militar, letras de músicas voltam a ser questionadas por autoridades.
Para os Garotos Podres, a investigação representa uma ameaça à liberdade artística e de expressão, enquanto apoiadores defendem que a obra deve ser contextualizada dentro do punk rock, gênero conhecido pelo uso de linguagem extrema, sátira e crítica social.






