Joël Le Scouarnec admitiu ter cometido “atos abomináveis”
Nesta segunda-feira (24), o ex-cirurgião Joël Le Scouarnec, de 74 anos, foi a julgamento na França acusado de estuprar e agredir sexualmente 299 pacientes, a maioria menores de idade. No tribunal de Vannes, ele admitiu ter cometido abuso sexual, chamando de “atos abomináveis”. Além disso, declarou estar “plenamente consciente” do impacto irreparável de seus crimes.
Le Scouarnec pode ser condenado a 20 anos de prisão por 111 acusações de estupro e 189 de agressão sexual, agravadas pelo fato de que ele abusou de sua posição como médico e de que 256 de suas vítimas tinham menos de 15 anos. “Não pretendo fugir das minhas responsabilidades”, afirmou o ex-cirurgião, por meio de seu advogado, Maxime Tessir.
O julgamento ocorre quatro meses depois de um caso que chocou o país: o estupro em série de Gisèle Pelicot, pelo qual 51 homens foram condenados. Na entrada do tribunal, cerca de 30 manifestantes seguravam uma faixa com a frase “Médicos agressores, estupradores. O Conselho de Médicos é cúplice”, em protesto contra abusos no sistema de saúde.
As vítimas acompanharão o julgamento de uma sala anexa e só irão ao tribunal principal para depor. Segundo a advogada Marie Grimaud, que representa 39 das partes civis, “elas não esperam nada do réu, mas esperam recuperar um pouco de dignidade e ser ouvidas pela Justiça“.
Joël Le Scouarnec mantinha diários detalhados sobre os abusos cometidos, que incluíam vítimas sedadas em enfermarias ou recém-saídas de procedimentos cirúrgicos. A média de idade das vítimas era de 11 anos, mas entre os casos está o estupro de um bebê de um ano e a agressão sexual de um idoso de 70 anos.
Em 2005, ele foi condenado a quatro meses de prisão, com pena suspensa, por posse de pornografia infantil, mas continuou exercendo a medicina. Apenas em 2017, após a denúncia de uma vizinha de seis anos, a polícia encontrou em sua casa mais de 300 mil imagens de pedofilia e cadernos com nomes e relatos dos abusos. Joël Le Scouarnec já cumpre pena por crimes semelhantes contra quatro menores, julgados em 2020.
O veredicto final do julgamento atual está previsto para 6 de junho. Cerca de 40 vítimas já solicitaram depor a portas fechadas.