Goiás lidera número de laboratórios de cocaína no Brasil, aponta estudo

Publicação revela existência de 550 laboratórios ativos desde 2019, sendo 125 localizados em Goiás

Goiás é o estado com maior número de laboratórios de processamento de cocaína do país, segundo o estudo “Floresta em Pó”, divulgado nesta quinta-feira (30). A publicação, organizada pela Iniciativa Negra por Uma Nova Política de Drogas em parceria com a Drug Policy Reform & Environmental Justice International Coalition, identificou 550 laboratórios em funcionamento no Brasil desde 2019 — 125 deles em território goiano.

O levantamento aponta que esses locais são responsáveis pelo refino e pela “engorda” da droga, processos que movimentaram cerca de R$ 30 bilhões dentro de um mercado estimado em R$ 65,7 bilhões em 2024. O estudo também relaciona a produção de cocaína ao financiamento de outras atividades criminosas, como o garimpo ilegal, a grilagem de terras e a extração de madeira.

De acordo com Daniel Edler, pesquisador do Instituto Fogo Cruzado e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Goiás ocupa posição estratégica na chamada “rota caipira”, que liga Bolívia e Paraguai a grandes centros do Sudeste e ao porto de Santos. “Há uma correlação dos grandes laboratórios de refino próximos dessa rota. Goiás se tornou um ponto-chave para a distribuição da droga rumo a Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Nordeste”, explicou.

Os dados foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação e cruzamento de registros oficiais com notícias e relatórios públicos. Além de Goiás, os estados com maior número de laboratórios são Amazonas (42), São Paulo (37), Minas Gerais (34) e Mato Grosso (29).

O estudo destaca ainda que, com o enfraquecimento das Farc na Colômbia a partir de 2016, parte da estrutura de refino migrou para países como Brasil e Equador, ampliando a presença dessas operações no território nacional. Para os pesquisadores, o desmonte de laboratórios tem impacto limitado, já que as organizações criminosas se adaptam rapidamente e diversificam suas fontes de renda.

A publicação defende maior integração entre órgãos de segurança, Receita Federal, Coaf, Ibama e Funai para combater o fluxo financeiro do tráfico. “O mercado da cocaína funciona como um anabolizante para outras atividades ilegais. Enfrentar o dinheiro é mais eficaz do que apenas operações ostensivas”, conclui Edler.

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