Mais de 50 militares em Goiás recebiam benefício irregular do Césio-137

Operação Césio 171 revelou esquema de falsificação de laudos médicos e isenções fiscais indevidas que causou prejuízo de quase R$ 80 milhões aos cofres públicos

O número de militares da reserva de Goiás que recebiam irregularmente o benefício destinado às vítimas do acidente com o Césio-137 chega a 50 servidores, segundo informou o delegado adjunto da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), Leonardo Dias, sobre a segunda fase da Operação Fraude Radioativa. A ação, chamada de “Césio 171”, foi deflagrada em 2024 para desarticular uma organização criminosa responsável por fraudes que geraram um prejuízo estimado em R$ 79 milhões aos cofres públicos.

De acordo com o delegado, cinco mandados de prisão foram cumpridos — três advogados, um médico e um engenheiro — nas cidades de Goiânia e Trindade. O grupo é investigado por falsificar documentos públicos e laudos médicos com o objetivo de obter isenções indevidas de imposto de renda, alegando contaminação por Césio-137, substância envolvida no maior acidente radiológico do mundo fora de uma usina nuclear, ocorrido em Goiânia em 1987.

O esquema era composto por quatro núcleos de atuação:

  • Núcleo de Captação: responsável por recrutar militares da reserva, formado por uma advogada e um militar reformado.
  • Núcleo de Fraude/Falsificação: composto por um advogado e um médico, responsáveis por adulterar laudos e relatórios médicos.
  • Núcleo Jurídico: encarregado de protocolar as ações fraudulentas no Poder Judiciário.
  • Núcleo de Advogados Laranja: fornecia senhas para o registro de ações falsas.

Inicialmente, o prejuízo era estimado em R$ 20 milhões, mas, com o avanço das investigações, o valor subiu para R$ 79 milhões. Segundo Leonardo Dias, a operação conseguiu interromper a atuação dos principais núcleos e evitar que o golpe continuasse a se expandir.

O principal mecanismo de fraude era a obtenção de isenção do Imposto de Renda retido na fonte, considerada mais simples do que ações judiciais para concessão de pensões. O grupo falsificava laudos médicos e enganava os militares, coletando material biológico sob a falsa promessa de análise em laboratórios estrangeiros. O material, no entanto, nunca era enviado, e os relatórios eram forjados com dados falsos.

Além das fraudes relacionadas ao Césio-137, os suspeitos também usavam laudos de outras doenças graves, como HIV positivo, para justificar pedidos de isenção. “O núcleo jurídico ajuizava a mesma ação várias vezes, às vezes com documentos diferentes para o mesmo cliente”, afirmou o delegado.

Os presos devem responder por falsidade ideológica, falsificação de documento público, estelionato contra ente público e associação criminosa. A Deic informou que, até o momento, não há indícios de envolvimento de servidores públicos do Judiciário ou do Executivo no esquema.

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