Estudo global mostra que criadores de conteúdo individuais superam empresas jornalísticas em atenção do público; YouTube é a principal plataforma para consumo de notícias
Um levantamento divulgado pela Reuters Institute, em parceria com a Universidade de Oxford, revela que os brasileiros dão mais atenção a influenciadores digitais do que à imprensa tradicional. O estudo, que analisou o comportamento de consumidores de notícias em 24 países entre 2024 e 2025, mostra que o Brasil figura entre as nações onde os criadores individuais mais se destacam na distribuição de informação.
A pesquisa ouviu usuários de plataformas como Facebook, X (antigo Twitter), YouTube, Instagram, Snapchat e TikTok, buscando entender quais fontes de notícias e personalidades os usuários mais acompanham. Foram avaliados diferentes tipos de conteúdo — de análises e comentários a investigações e explicações — e o impacto das redes sociais no consumo de jornalismo.
Brasil se destaca entre os países com mais atenção voltada a influenciadores
Os dados indicam que o Brasil está entre os países em que os influenciadores exercem maior impacto na formação da opinião pública, junto com Indonésia, Índia, Quênia, Tailândia e África do Sul. Já em nações como França, Canadá, Espanha e Austrália, o público ainda dá mais peso à cobertura feita por veículos jornalísticos tradicionais.
No cenário nacional, o estudo destaca que mesmo jornalistas de grandes emissoras têm mais engajamento pessoal nas redes do que as próprias empresas para as quais trabalham. Nomes como William Bonner, César Tralli, Datena, Leo Dias e Alexandre Garcia estão entre os mais acompanhados individualmente.
YouTube lidera o consumo de notícias no país
O relatório aponta o YouTube como a principal plataforma para criadores de notícias no Brasil, seguido por TikTok e Instagram — redes que atraem um público mais jovem interessado em conteúdos explicativos e rápidos. Já o X segue relevante para acompanhar políticos e debates, especialmente nos Estados Unidos, África do Sul, Nigéria e Japão.
Mídia digital brasileira mistura informação e entretenimento
De acordo com o relatório, o Brasil se diferencia por misturar jornalismo e entretenimento. Casos como o da influenciadora Virgínia Fonseca, que ganhou destaque ao participar da CPI das Bets, exemplificam a intersecção entre conteúdo noticioso e monetização pessoal. O texto também cita Leo Dias, que produz entrevistas políticas em formato de “infotenimento”, combinando política e entretenimento.
Polarização e influência política nas redes
A Reuters observa que o Brasil tem forte presença de políticos e influenciadores nas redes. Tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto o ex-presidente Jair Bolsonaro utilizam ativamente suas plataformas para mobilizar apoiadores. Figuras como Nikolas Ferreira, Bárbara Destefani (Te Atualizei), Augusto Nunes e Gustavo Gayer aparecem como exemplos de influenciadores políticos com grande alcance digital.
O estudo mostra ainda que há pouca interação entre os públicos de esquerda e direita. Segundo os dados, usuários de direita acompanham mais influenciadores de notícias, enquanto os de esquerda tendem a seguir jornalistas ligados à grande mídia, como William Bonner e comentaristas da CNN.
O relatório, coordenado no Brasil pelo jornalista Rodrigo Carro, conclui que os criadores de conteúdo assumem um papel cada vez mais central no ecossistema informativo brasileiro — muitas vezes ocupando o espaço antes dominado pela imprensa tradicional.






